“O Diabo de Cada Dia”

Drama com elenco estelar está bombando nas redes sociais e divide opiniões

Pois é, não teve jeito! Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, se tratando de filmes disponíveis na Netflix é “O Diabo de Cada Dia”. A trama é ambientada entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã e acompanha diversos e bizarros personagens em um canto esquecido de Ohio, nos Estados Unidos. Cada um deles foi afetado pelos efeitos da guerra de diferentes maneiras. Entre eles, um veterano de guerra perturbado, um casal de serial killers e um falso pregador que abusa de fiéis.

O elenco é repleto de estrelas. Tom Holland (o Homem-Aranha da Marvel Studios) é o protagonista da trama, Arvin é um jovem que cresceu em um paradoxo de bondade e a violência trazida pelo seu pai. Bill Skarsgård (o Pennywise de It: A Coisa) é o falecido pai de Arvin, que foi um veterano de guerra. O militar perdeu a esposa para o câncer e cometeu erros terríveis em sua vida, os quais percorreram gerações e vivem no imaginário do filho. O pastor vivido por Robert Pattinson (o Edward de Crepúsculo) é o antiexemplo religioso, como a primeira prévia do projeto comprova. O personagem vai de cidade em cidade com sermões extravagantes, mas nenhuma moral e é bem parecido com algumas figuras que vemos nos noticiários policiais, Brasil afora. Sebastian Stan (o Soldado Invernal da Marvel Studios) dá vida a um policial que está para a lei assim como Teagardin está para a religião.

O oficial corrupto também é irmão de Sandy Henderson. Além de ser irmã do policial, a personagem de Riley Keough (A Casa Que Jack Construiu) é casada com Carl, interpretado por Jason Clarke (Planeta Dos Macacos: O Confronto). Eles são um casal viajante de serial killers e Mia Wasikowska (a personagem-título de Alice No País Das Maravilhas) é Helen Hatton, mulher casada com o padre Roy (Harry Melling, o Duda de Harry Potter). Ela já teve a sua mão destinada a Willard, enquanto o atual marido, assim como Teagardin, também é um homem cruel.

O filme é dirigido por Antonio Campos, natural de Nova York, (aliás, Campos é filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes, apresentador de Manhhattan Connection, o que o faz “meio brasileiro”). O Diabo de Cada Dia é uma adaptação do livro “O Mal Nosso de Cada Dia” escrito por Donald Ray Pollock, que também atua como narrador dos acontecimentos durante o longa. O enredo trata de fanatismo religioso, falsos profetas, serial killers e abusos. Um drama que mostra uma sucessão de tragédias interligando as histórias entre personagens. Sim, o filme é pesado e nos chama à reflexão, principalmente quando vemos que esses acontecimentos estão diante de nossos olhos neste exato momento. Vale a pena conferir e tirar suas próprias conclusões.

Nas redes sociais, espectadores não poupam elogios para o filme do diretor Antonio Campos, mas não se pode dizer o mesmo da crítica especializada, que até enaltece atuações e apuro técnico, mas acreditam que o enredo tenha se perdido no meio de tanta maldade e violência da trama. Sihan Felix, do site Canaltech comparou o resultado final da obra como a um livro que deixa abertas lacunas para que imaginemos o futuro do protagonista. “No final das contas, O Diabo de Cada Dia consegue superar a possível fragilidade da narração em off intermitente porque a direção de Campos a utiliza para preencher lacunas sem causar exposição exagerada. Então, é por ficar preso entre o passado e o futuro que o resultado pode parecer tão atual, tão pertinente e, de repente, assustador. Além disso, como Arvin, mesmo citando o Vietnã, permanece vivo, a lacuna de uma mudança, de uma sobrevida, fica aberta. Cabe a nós imaginarmos, como nos melhores livros, o que acontecerá após a última linha de leitura ou, no caso, depois do seu descanso, depois do último corte.”

Pablo Bazarello, do Cinepop, acredita que o filme necessitava de algo mais, embora elogie as atuações do longa. “A crítica funciona, a mensagem é passada de forma clara, e estes elementos estão entre os acertos do longa. Assim como a reconstrução mais que eficiente da época, e atuações de alto nível, em especial as de Pattinson, Melling e Keough. Porém, para um filme transcender sua intenção e o próprio assunto a que se propõe a discutir é preciso algo mais. E em sua maioria os personagens não obtém destaque ao ponto de realmente nos identificarmos e começarmos a nos importar com eles. Em muitos momentos, seja pela falta de diálogos mais fervorosos (para acompanhar o tema) ou pela confecção de cenas mais chamativas (ou artisticamente ousadas), sentimos como se O Diabo de Cada Dia fosse apenas uma sucessão de eventos muito ruins e violentos ocorrendo constantemente de forma genérica, sem grande apelo. Apesar de suas qualidades, é pouco provável que o longa possua a resiliência de permanecer marcado em nossas mentes.”

Já Marcelo Hessel, do site de entretenimento Omelete, pontua que o diretor tenha exagerado no apuro técnico, e que isso acabou por prejudicar a obra. “Que o diretor conduza esse épico fatalista com um trabalho de câmera engrandecedor, com zooms de panorâmica que lembram os épicos geracionais fatalistas de Paul Thomas Anderson, principalmente Sangue Negro, é o nó que faltava no embrulho de O Diabo de Cada Dia. No fim o que se tira do filme é realmente o que ele oferece desde o começo, aquilo que tem de superatuado e superencenado, com seus atores de prestígio enquadrados frontalmente em close-ups geométricos e claustrofóbicos, pensados como câmaras de ressonância para esses talentos gritantes de caracterização. Há um esforço, sem dúvida, em curso aqui, de transformar uma sucessão de violências gratuitas em um relato cheio de gravidade, mas talvez seja afinal aquele caso clínico, clássico, de quando a pessoa se esforça um pouco demais.”

“O Diabo de Cada Dia” está disponível na Netflix e a classificação indicativa é de 16 anos.

(Texto: Marcelo Rezende)

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