‘Grupos buscam o Brasil para tratamentos’, diz infectologista

O médico Julio Croda acompanha os testes de vacinas e resultados são promissores

Pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), o infectologista Julio Henrique Rosa Croda estima que o prazo inicial para a população ter acesso a uma vacina contra o coronavírus pode ser o primeiro semestre de 2021. Além da atuação na Fiocruz, Croda foi diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde até 23 de março, ainda durante a gestão Luiz Henrique Mandetta à frente da pasta.

O otimismo vem após o governo federal anunciar uma parceria com o Reino Unido para a testagem e produção da vacina contra a COVID-19, que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca. O princípio ativo será transferido para o Brasil, junto com as demais tecnologias, e a Fiocruz será a responsável por embalar em doses que serão ofertadas à população. É a segunda imunização contra a doença em estudo no Brasil. O Instituto Butantan, de São Paulo (SP), também vem trabalhando em uma vacina, utilizando a mesma plataforma de elaboração contra a dengue. Na vacina de Oxford, os ingleses já divulgaram e demonstraram uma eficácia de 90% na proteção contra a COVID-19.

O Estado – Estamos próximo da descoberta da vacina?

Croda – Tem duas propostas de vacina que estão sendo lideradas. A da Fiocruz, cuja pesquisa original é de Oxford, e será testada com o pessoal da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), iniciou os ensaios da fase três. Os testes dessa vacina terão duração de um ano. O governo brasileiro está investindo em 30 milhões de doses iniciais, 15 milhões em dezembro, 15 milhões em janeiro. Pode ser que dê certo ou não, mas é um investimento em transferência de tecnologia. A outra vacina, do Instituto Butantan, ainda está encerrando a fase dois, está um pouco menos avançada, mas até o fim do ano vamos saber os resultados e iniciar o processo de registro nos órgãos regulatórios (como a Anvisa). Se essas vacinas se demonstrarem promissoras, a gente já tem um cenário bom de priorizar profissionais da saúde e grupo de risco, podemos estimar que chegue ao grande público ainda no primeiro semestre de 2021. Mas não tem como precisar uma data.

O Estado – Qual a contribuição dos pesquisadores brasileiros para a descoberta?

Croda – O Brasil está financiando essas duas vacinas e tem acordo com a empresa chinesa para uma outra no ponto de vista de desenvolvimento. Essas parcerias internacionais possibilitam a transferência de tecnologia. Não só da vacina, mas também de tratamentos. Diversos grupos estão buscando o Brasil para buscar novos tratamentos porque a gente ainda tem a perspectiva de bastante circulação do vírus, e muitos pacientes podem ser beneficiados com esse tipo de tratamento. Eu mesmo estou testando junto com a Universidade de Melbourne (na Austrália) um tratamento com revacinação com 2 mil trabalhadores da saúde em Campo Grande. Esperamos por uma resposta importante que ajude 10 mil pessoas de todo o mundo.

O Estado – Acredita quando chegarão as doses ao público?

Croda – O tempo da ciência não é o tempo da necessidade em termos de saúde pública. Temos de aguardar os resultados em relação ao acompanhamento, principalmente da imunidade desses pacientes que foram recrutados e que serão recrutados no futuro aqui no Brasil.

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(Texto: Rafael Ribeiro/Publicado por João Fernandes)

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