Fala de OMS sobre assintomáticos não muda ações, diz secretário

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a entidade que está norteando as ações de prevenção e enfrentamento é a OMS (Organização Mundial da Saúde). Em função disso, estudos e orientações dadas pela agência são seguidos pelos países para conter a disseminação do vírus. No entanto, na segunda-feira (8), a citação da chefe do programa de emergências da organização, Maria van Kerkhove, surpreendeu pesquisadores da área de saúde: foi dito que a transmissão da COVID-19 por pacientes sem sintomas da doença parece ser “rara”. A grande repercussão fez a OMS fazer um novo comunicado ontem (9), corrigindo a informação, mas autoridades garantem que as políticas públicas não serão alteradas.

Na segunda-feira, Van Kerkhove falou sobre a contenção do novo coronavírus, sugerindo que poderia ocorrer de forma mais rápida se os pacientes sintomáticos fossem isolados, já que a transmissão dos assintomáticos parece ser rara. A explicação foi embasada em cenários de países com grande capacidade de testagem e rastreamento, o que ocorre pouco no Brasil. Uma série de críticas por parte de pesquisadores, incluindo de universidades como Harvard, foram feitas sobre a informação divulgada. Por fim, ontem, a OMS informou que os assintomáticos transmitem a COVID-19, mas não é possível determinar o “quanto”.

Apesar de toda a repercussão, o titular da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), José Mauro, garantiu que a citação da agência não vai influenciar em nada nas ações do Poder Público. “Não muda em nada as políticas públicas. Para quem vai precisar de um leito, isso vai continuar sendo um problema grave”, exemplificou. “Se pensarmos que 80% dos casos são assintomáticos, estamos falando da mesma coisa. Minha preocupação é com os 20% que são os que vão para os hospitais. Temos de voltar nossos esforços a essa população que vai precisar de cuidados maiores”, pontuou, se referindo ao atendimento dos casos graves.

Apesar da reviravolta na informação da OMS, muitas pessoas nas redes sociais já repercutiam a informação, insinuando que as medidas de prevenção contra o vírus foram exageradas. É justamente esta a preocupação de autoridades de saúde. Para José Mauro, “depende da consciência de cada um” manter os cuidados.

Já o titular da SES (Secretária de Estado de Saúde), Geraldo Resende, teme que a citação possa prejudicar ainda mais as ações de prevenção. “Essa informação pode, inclusive, contribuir para aumentar o grau de não adesão ao isolamento social”, avaliou. O secretário acredita que mais estudos são necessários para comprovar a informação. “Isso ainda não tem uma definição clara, espero que outros estudos venham. Até as informações que nos chegaram é que os assintomáticos transmitem igual pacientes com sintomas”, comentou.

O infectologista e pesquisador da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Júlio Croda avaliou que houve uma interpretação errada da informação da OMS. “É importante entender o contexto. Vi o vídeo [coletiva da OMS] e ela colocou, no contexto de vigilância em saúde pública, que é mais importante priorizar as pessoas com sintomas leves do que os assintomáticos para você buscar casos e fazer testagem e isolamento”, explicou. O especialista destacou ainda que não existem dados para embasar que um infectado sem sintomas não transmite a COVID-19. “Não tem evidências científicas qualificadas que indiquem quantos por cento dos assintomáticos transmitem o vírus e qual é o impacto para a pandemia”, concluiu. Esta é a mesma avaliação da médica infectologista Priscilla Alexandrino. “Descontextualizaram a fala da infectologista da OMS. Colocando de volta no contexto, ela disse que os estudos mostram que tem uma transmissão menor dos assintomáticos”, afirmou.

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(Texto: Raiane Carneiro)

 

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