Dificuldade para engravidar: entenda o problema que tem afetado tantos casais 

No Brasil, pelo menos 8 milhões de pessoas são atingidas pela infertilidade

Para muitas mulheres a maternidade é um sonho, desejada e planejada minuciosamente. Mas para outras, pode se tornar a tentativa de uma experiência frustante quando se trata da infertilidade. A redução da capacidade para produzir uma gravidez, atinge atualmente no Brasil, cerca de 8 milhões de pessoas. Desse total, 35% dos casos estão relacionados à mulher, cerca de 35% ao homem, 20% a ambos e 10% são provocados por causas desconhecidas conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O sonho de gerar

Para a bancária Kalliny Rocha e seu esposo Alexandre Rocha, a maternidade quase se tornou um sonho abortado, quando a jovem, que na época tinha apenas 24 anos, descobriu um tumor raro no útero, de 1,4 kg  21 por 14 cm. Kalliny sofreu de uma hemorragia de 54 dias, e nenhum médico conseguia dizer exatamente o que estava acontecendo. Depois, teve que ser internada as pressas com 90% de chances de ter que retirar o útero, ovários e trompas. Ao longo de sua cirurgia, o órgão reprodutor foi salvo, mas 75% do ovário esquerdo foi arrancado, além de sua trompa esquerda.

Após todo o tratamento, Kalliny tentou engravidar por 3 anos e não obteve resposta alguma em seus testes. Durante este período, ela conta que chegou a perder duas gestações, e fala como foi para ela e o esposo, as tentativas sem sucesso. “Sem dúvidas esse processo foi muito doloroso, só quem perde um bebê sabe o quanto sofremos, afinal, nós nascemos para gerar vidas. Sempre que eu alcançava o terceiro mês, meu útero não resistia e abortava espontaneamente. Com tudo isso eu nunca quis desistir, eu sabia que Deus me daria filhos. E ele me disse que eu teria quantos filhos eu desejasse” Conta.

“Agora eu tenho dois, um menino e uma menina, o primeiro vai fazer 2 anos semana que vem, e a outra tem 40 dias. Quando olhei para ela pela primeira vez, eu vi que era exatamente como eu sonhei um dia. Eles são a maior delícia da minha vida. A melhor coisa que me aconteceu, a alegria dos meus dias” finaliza.

Para o casal de pastores Rose e Marcelo Ribeiro, a dificuldade para gerar a gravidez era por parte de Marcelo, que não tinha a quantidade de espermatozoides bons o suficiente. No entanto, o problema só foi detectado após 6 anos de uma longa história. Por todos esses anos, Rose fez desde o mais simples, até o mais complexo dos exames solicitados por especialistas da área. Em meio a tantos testes, tratamentos e cirurgia sem sucesso, o casal teve que se mudar para uma missão em Goiânia, sem saber, que estavam há alguns quilômetros de distância da realização de um grande sonho.

“Nós tivemos que nos mudar para Goiânia, lá, a irmã de um grupo que frequentávamos, trabalhava em um hospital de referência e perguntou se eu tinha interesse em agendar uma consulta. Eu sabia que era muito difícil, porque eu havia acabado de chegar lá e inúmeras pessoas já estavam na fila há anos tentando uma vaga, mas mesmo assim eu aceitei, e com 30 dias ela conseguiu. Ao chegar no consultório, com todos os meus exames que eu já tinha realizado em Campo Grande, o médico olhou e disse que as chances eram poucas. Ele me afirmou que eu tinha apenas 10%  e não iria conseguir da primeira vez. Eu sabia que essa era a chance que eu precisava, porque eu tinha certeza do que Deus podia fazer. Então ele colheu todos os espermatozoides do Marcelo e escolheu os melhores para fecunda-los. Fiquei de repouso por 15 dias depois do procedimento, foi a espera mais longa de nossas vidas, parecia que nunca chegaria a hora de contra-lo novamente. Ao chegarmos lá, o exame surpreendeu a todos nós, inclusive o médico, e ele finalmente me disse que eu estava grávida!”.

Mesmo com tantas dificuldades, Rose conta que ela e o marido nunca pensaram e desistir, e embora não enxergassem nenhum problema em adotar, o maior sonho da vida dela era viver cada etapa de uma gestação, e depois de 2 anos da chegada de Elisa, algo extraordinário aconteceu. ” Quando a Elisa estava com pouco mais de dois nos, percebi que não estava menstruando, no entanto, o médico havia me falado que caso eu quisesse engravidar novamente, eu teria que passar por outro tratamento. Mas eu decidi fazer um exame, e lá estava, um teste positivo! Eu nem imaginava, foi mais um milagre. Eu guardei esse segredo por dez dias, e no dia do aniversário do meu esposo, eu coloquei um sapatinho dentro de uma caixa e dei para a Elisa entregar a ele, dizendo que ela era um presente na vida dele, e que Deus havia dado outro presente a ele naquele dia. Quando ele terminou de ler, nós passamos o vídeo da ultrassom e ele chorou muito. Foi um marco na nossa vida” relembra.

Causas da infertilidade

No caso dos homens, a infertilidade pode estar relacionada a vários fatores, como: doenças neurológicas, diabetes, traumas testiculares, drogas, doenças sexualmente transmissíveis e vários outros distúrbios. Já as causas de improdutividade feminina, podem estar ligadas aos hormônios, que impedem ou torna dificultoso a liberação dos óvulos. A endometriose. Síndrome do ovário policístico. Ligadura das trompas. Problemas nas trompas ou tubas uterinas, provocados por infecções ou cirurgias. Muco cervical que impede a passagem dos espermatozoides. Infecção no colo do útero, ou até mesmo a idade. Como nunca na história, as mulheres têm enfrentado tanta dificuldade para se tornarem mães.

O Jornal O Estado entrou em contato com a Doutora Klíssia Pires de Souza, uma das médicas referência em infertilidade em Campo Grande, que atua como ginecologista em reprodução assistida, e Supervisora da Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que falou sobre as causas e tratamentos durante este processo.

Quando o problema esta ligado ao home, Klíssia diz que é preciso procurar um infertileuta ou um urologista. Caso não houver possibilidade de tratamento para o sêmen, a ponto de tornar possível a gravidez espontânea, o casal deve partir para os tratamentos de produção assistida.

Segundo a médica, a postergação dos planos relativos a constituição de família, caminha na contramão da natureza biológica da maternidade, pois o ápice da fertilidade feminina situa-se entre os 20 e 30 anos. “Um estudo populacional dinamarquês disse que se a mulher pensa em ter 3 filhos deveria começar antes dos 23 anos, se 2 filhos, iniciar antes dos 28 anos e se 1 filho, iniciar antes dos 32 anos. Tudo isso, considerando alta chance de sucesso. Se uma mulher de 40 anos resolve ter o primeiro filho nessa idade, a chance de conseguir engravidar é de 50% apenas” relata.

“O ideal é engravidar jovem (entre os 20 e os 30 anos), mas cabe lembrar que hoje temos a possibilidade de preservação da fertilidade através do congelamento de óvulos, para aquelas mulheres que não tem planos de engravidar antes dos 35 anos, seja para atender a uma demanda profissional ou por ter passado por relacionamentos frustrados e ainda não ter encontrado o parceiro e pai ideal para os seus filhos” continua.

Tratamentos

A especialista ressalta ainda, que o tratamento da infertilidade dependerá do diagnóstico da causa da infertilidade. “De modo geral, tem-se duas linhas de tratamento. A primeira é a restauração da fertilidade através do tratamento específico da causa, o que permite ao casal ter boas chances de engravidar naturalmente. A segunda linha envolve os tratamentos de reprodução assistida, em que o objetivo é otimizar as chances de gravidez do casal através de um dos seguintes métodos: indução da ovulação, coito programado, inseminação intra-útero (IIU) e fertilização in vitro (FIV). A indicação de cada tratamento depende do caso em específico e deverá ser discutido entre o casal e o médico assistente” conclui.

O Doutor Edson Shigueo, que é habilitado em cirurgias minimamente invasivas, e pioneiro atuando há pelo menos 25 em casos de infertilidades em Campo Grande, revela que hoje em dia, é mais comum as mulheres passarem por isso pelo fato de esperarem tanto para conhecerem a maternidade. “O quesito mais importante para a mulher é a idade, pois os óvulos envelhecem com o tempo. O mais indicado é que a genitora tente engravidar antes dos 35 anos. Antigamente as mulheres se casavam e logo ficavam grávidas. Hoje, elas demoram um pouco mais, devido a formação, trabalho, entre tantos outros projetos que desejam concluir em seu papel na sociedade” explica.

O especialista conta, que 15% das mulheres em idade fértil tem endometriose, ou seja, quase metade das vítimas da esterilidade. Segundo Edson Shigueo, 2/3 das pacientes que apresentam dor pélvica crônica, tem endometriose. “Essa doença é causada por predisposição genética, alteração da resposta imune e menstruação excessiva prolongada. Mas um dos vilões dessa disfunção, é o sobrepeso e o sedentarismo. Um sintoma que facilmente podemos detectar é a cólica excessiva, além das dores durante a relação sexual e dificuldades para engravidar, o que passamos a considerar, quando o casal tenta durante o período de um ano e não obtêm exito” pontua.

(Texto: Karine Alencar)

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