Fim do isolamento social não impede recessão econômica

Com a pandemia de coronavírus políticos e acadêmicos questionam os impactos do confinamento na economia global e a relação entre os custos humanos e financeiros da covid-19.

Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump, o fim do isolamento generalizado das populações e a retomada da “vida normal” para evitar uma crise maior. Foram criticados por médicos e acadêmicos, que dizem que este posicionamento significa acreditar que evitar uma recessão é mais importante do que prevenir mortes.

A pergunta “quanto custa salvar uma vida?” começa a ser pensada de forma séria por estudiosos. E a resposta pode ser cerca de US$ 2 milhões, segundo a avaliação de três economistas sobre os impactos da pandemia e do confinamento na economia dos Estados Unidos.

Martin S. Eichenbaum e Sergio Rebelo, da Universidade Northwestern, nos EUA, e Mathias Trabandt, da Free University de Berlim, na Alemanha, cruzaram modelos de epidemiologia com contextos econômicos para medir os possíveis impactos humanos e financeiros do coronavírus.

Eles dizem que o confinamento pode aumentar o impacto da recessão econômica, mas evitar a morte de cerca de 500 mil pessoas nos Estados Unidos. De acordo com suas conclusões, as pessoas já reduziram seu consumo e trabalho por conta do da epidemia. Isso significa que já haveria recessão econômica independentemente de políticas de isolamento social.

Queda sustentável da doença

Os pesquisadores defendem que, o ideal é introduzir medidas de confinamento em massa para resultar em uma queda brusca e sustentável do impacto da doença.

“A política ótima é a procura pelo equilíbrio entre custos e benefícios, mas é possível dizer que em todos os cenários é ótimo introduzir confinamentos”, afirma Rebelo, um dos autores do estudo, à BBC News Brasil.

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Sem confinamento, a pandemia causaria queda de 2% no consumo dos americanos. “No longo prazo, a redução permanente da população e no PIB real seria de 0,65% refletindo a mortalidade da epidemia”, diz o pesquisador português, que vive nos EUA.

Com as medidas restritivas, a queda no consumo poderia chegar a 9,1%, mas a redução da atividade econômica levaria a uma proporção menor de pessoas infectadas em momentos de pico (5,1% em vez de 8,4%), e o número total de mortes cairia de 2,2 milhões para 1,7 milhão.

O declínio na economia passaria de US$ 800 bilhões sem confinamento para US$ 1,8 trilhão com isolamento social imposto pelo governo, uma diferença de US$ 1 trilhão por 500 mil vidas. É a partir desse dado que eles calculam o custo para salvar vidas, chegando ao número de US$ 2 milhões por pessoa salva.

O valor é bem mais baixo dos que os US$ 9,5 milhões usados como padrão por agências dos Estados Unidos, como a de proteção ambiental, ao calcular o padrão de custo por vida salva ao determinar políticas públicas do setor.

Olhando além da epidemia

Além disso, a queda no número de horas trabalhadas, no longo prazo, seria menor no cenário em que as vidas são salvas (de 0,65% para 0,53%), já que o declínio populacional também é reduzido.

Segundo ele, as políticas de confinamento são fundamentais agora. O foco atual é evitar a propagação da doença, enquanto se aprende sobre ela a fim de superar a pandemia.

No plano mais imediato, a melhor forma de evitar que a crise econômica tenha um impacto ainda maior na vida das pessoas é promover políticas de transferência de renda e de apoio à população e às empresas.

O Brasil tem um sistema de saúde que tem pouca resiliência. Essa é mais uma razão pela qual o confinamento é uma política prudente, diz o especialista.

Rebelo diz que o Brasil se encaixa bem em um dos cenários apresentados no artigo, o de número 4. De acordo com o modelo citado por ele, o pico de infectados pode chegar a aproximadamente 5% da população, mas cairia para menos de 2% com uma política de confinamento. De forma semelhante, o número de mortes no modelo poderia chegar em poucas semanas a 0,5% da população, e poderia ser reduzido quase pela metade no curto prazo com políticas de confinamento.

“O confinamento reduz o pico de infecções e dá ao governo uma oportunidade de se preparar. Se o governo não estiver preparado, vamos entrar em uma situação de completo caos”, afirma.

A questão é como fazer isso da forma mais inteligente possível. É preciso aumentar a restrição à mobilidade ao longo do tempo, à medida que a epidemia vai aumentando, e depois quando se chega ao pico, as restrições devem ser mantidas, mas podem ser atenuadas aos poucos.

Essa é a política ótima, que consegue o melhor resultado e os objetivos em competição. Por um lado, é preciso que haja um número suficiente de pessoas que tenham adquirido imunidade. É preciso evitar que haja muita gente infectada ao mesmo tempo, como está acontecendo na Itália, criando um caos nos hospitais, infecção de pessoal médico, uma tragédia.

(Texto: Inez Nazira com informações da Época Negócios)

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