Pedreiras e porteiras estão ocupando cada vez mais espaço no mercado de trabalho

Elas ainda são minoria, mas estão ocupando cada vez mais espaço nas portarias e nas construções civis de Campo Grande; estamos falando das porteiras e das pedreiras, profissões que antes eram consideradas masculinas, mas que hoje a mulherada domina como ninguém.

A jornada começa cedo: às seis horas da manhã Riana Teixeira Barbosa, de 34 anos, chega ao trabalho! Há dois anos é uma dos três porteiros que trabalham em um condomínio no bairro São Francisco, região central da Capital. Ela veio do interior do Estado e trabalhava como caixa em um supermercado, mas a necessidade fez com que Riana encarasse o desafio na nova profissão.

“Eu trabalhava em Jardim, meu pai era porteiro e ele conseguiu com o patrão dele, e com o síndico aqui do condomínio, uma vaga pra mim. Eu entrei por indicação, eu não tinha experiência nenhuma, nunca tinha trabalhado na portaria, eu comecei na profissão por necessidade”, lembra.

É de dentro de uma guarita que ela comanda todo mundo que entra e sai do prédio, recebe e separa correspondências, orienta prestadores de serviços e está sempre muito atenta, de olho nas imagens do circuito de segurança, e tudo isso sem perder a elegância. Apaixonada pelo que faz, a profissional garante que é muito elogiada pelos moradores e presta um serviço diferenciado.

“Modéstia à parte, aqui o pessoal me elogia bastante, é um serviço diferenciado, tanto morador homem quanto as mulheres falam que eu tenho atenção no atendimento, eu ajudo os moradores, como, por exemplo, se a moradora chegou de Uber e tá cheia de sacolas nas mãos, eu saio do meu posto, não é minha obrigação, mas eu vou lá e abro a porta pra ela, porque eu estou vendo que ela está chegando carregada, elas gostam disso. A minha satisfação é esta, é o reconhecimento pelo trabalho que eu faço”, afirma.

Mas, como nem tudo são flores, Riana já passou por situações machistas, mas que não a fizeram desistir do cargo que ocupa. “O maior desafio da profissão é a apatia de alguns prestadores de serviço, não é desrespeito, mas menosprezando por eu ser mulher, piadinha de mau gosto. Já ouvi comentários machistas por parte de alguns homens, como, por exemplo, pessoas de fora falando que você é uma excelente profissional, mas, se fosse para escolher, nós teríamos de escolher porteiro homem, porque mulher não impõe respeito. Independente de ser homem, ou mulher, meu trabalho é muito benfeito”, recorda.

Mãe solo, reconhecida e realizada na área profissional, Riana só carrega gratidão em seu coração. “Gosto do que eu faço, sou reconhecida pelo meu trabalho, é um sentimento de vitória poder sustentar minhas filhas com o dinheiro do meu trabalho, eu sou chefe de família, eu sou pai, sou mãe, eu que ponho tudo na minha casa, então eu ter esse serviço, para mim, é muito gratificante”, conclui.

Crédito: Nilson Figueiredo

Mão na massa

Quem foi que disse que pedreira é profissão apenas de homem? Os canteiros de obras foram transformados abrindo espaço para mulheres em um reduto tradicionalmente masculino. Delicadeza e cuidado são adjetivos essenciais na hora de construir.

Pedreira há dez anos, dona Gonçalina Rodrigues Canavarro, de 43 anos, conhecida por todos como ‘Lina’, é a única mulher da área em uma construção civil de Campo Grande. A necessidade fez com que a mãe de família procurasse outra fonte de renda para o sustento de sua casa. “Eu comecei mais por necessidade mesmo, curiosidade. Entrei no ramo, comecei a aprender e a cada dia mais eu aprendo mais. No começo eu fazia pequenos reparos, como, por exemplo, reboco, e hoje eu já mexo com a parte de alvenaria, piso”, explica.

Por ser uma profissão conhecida por todos como ‘coisa de homem’, Lina precisou enfrentar comentários constrangedores por ser mulher, mas hoje ela é respeitada e reconhecida. “O reconhecimento para mim é muito bom. Ainda bem que nós mulheres conseguimos nos encaixar nesta profissão, porque no começo eu sofria muito preconceito, já cheguei a escutar que obra não é para mulher, coisas desse tipo, hoje em dia não mais, hoje é uma profissão normal pra mim”, comenta.

Na obra onde ela atua trabalham em média 92 pessoas e por lá ela conquistou o respeito de todos. “Hoje em dia a relação com meus colegas de trabalho está bem melhor, é como eu falo: respeita para ser respeitado, então aqui todo mundo me respeita, é um ambiente bem tranquilo”.

Realizada no que faz, Lina conta que foi a profissão que escolheu ela. “O meu sentimento é de gratidão por esta profissão que me escolheu, é graças a ela que eu consigo sustentar a minha família, eu amo trabalhar com obra, então levar o alimento daqui onde eu trabalho pra casa e fazendo o que eu gosto é melhor ainda. Me sinto lisonjeada”, finaliza.

Crédito: Valentin Manieri

(Texto: Bruna Marques)

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