Marchinhas de Carnaval: Gênero aquece os ânimos dos foliões

Unanimidade nos blocos e bailes fechados de Carnaval, as marchinhas animam os cordões repletos de foliões ávidos por festa nas noites de Momo. A primeira marcha foi composta em 1899 por Chiquinha Gonzaga, intitulada “Ó Abre Alas”, que feita especialmente para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro. Foi a partir daí que o estilo dominou os bailes de carnaval em todo o país..

O auge das marchinhas carnavalescas ocorreu entre as décadas de 1930 e 1940. Este estilo musical importado para o Brasil, descende diretamente das marchas populares portuguesas, partilhando com elas o compasso binário das marchas militares, embora mais acelerado, melodias simples e vivas, e letras picantes, cheias de duplo sentido. Marchas portuguesas faziam grande sucesso no Brasil até 1920. Inicialmente calmas e bucólicas, a partir da segunda década do século XX as marchinhas passaram a ter seu andamento acelerado, devido à influência da música comercial norte-americana da era das jazz-bands.

As marchinhas já foram conhecidas como as caricaturas da sociedade brasileira e tinham como ingredientes letras são maliciosas e divertidas, humor escrachado e retratam os costumes e a história do país no século passado. O politicamente correto não tinha espaço, não existia tema proibido, as frases de duplo sentido são bem-vindas e qualquer tema sério se transformava em uma grande brincadeira.

Um tema famoso e clássico das marchinhas é o triângulo amoroso entre os três famosos personagens da “Commedia dell’Arte”, gênero teatral criado no século XVI, na Itália, foi inspiração para a marchinha “Pierrot Apaixonado”, composta por Noel Rosa e Heitor dos Prazeres. Na trama, o Pierrot é um serviçal pobre e ingênuo que se apaixona pela Colombina, uma dama de companhia, mas ela só tem olhos para o Arlequim, um servo debochado e preguiçoso. A história também foi tema da música “Máscara Negra”, composta por Zé Keti em 1967.

Canções como “As Pastorinhas”, “As águas vão rolar’, “Aurora” e “Mamãe eu quero” são alguns dos clássicos que não pode faltar durante as noites e matinês de carnaval, e Campo Grande tem compositor que é expert no assunto. Dario Xavier, professor de química da UFMS. “Há mais de 12 anos que a gente competia, internamente, lá com o samba-enredo da Vila Carvalho. Havia essa competição interna e quem ganhasse – o samba que ganhasse – iria para a Avenida. Eu tive três sambas vencedores e a Carvalho desfilou com três sambas meus”, explica o letrista.

Sobre como um químico chegou ao gênero, revela que: “eu gosto de marchinhas desde a época de infância. Sou de Nioaque, a gente ouvia muitas pela rádio, que nos anos 60 era o maior carnaval da fronteira. Era um carnaval simples mas vinham bandas de Lins, Araçatuba – e muita gente de Ponta Porã, Aquidauana, região de Dourados e Maracaju – todos iam para Nioaque… e naquela época quando passava o 31 de dezembro as rádios só tocavam marchinhas”, comenta Dario.

Vivenciando o que muitos chamam de “época de ouro”, o letrista conta que: “o carnaval de Campo Grande – quando estudava o antigo ‘ginásio’ aqui -, nos anos 60 era maravilhoso. As pessoas esqueceram como o carnaval de Campo Grande era bom. Blocos e blocos na 14; cortejos; corsos passando, caminhões com fantasias; carros todos fantasiados, e depois seguia-se para os clubes”.

“Depois, o carnaval foi acabando e o de Corumbá continuou sempre se mantendo, aí as pessoas acham que Campo Grande nunca teve carnaval. Mas hoje em dia está renascendo. Temos blocos que, como por exemplo o Cordão Valu, que no sábado de carnaval sai da estação ferroviária com 30 mil pessoas. As escolas de Samba desfilam na praça do Papa guardando as proporções”, comenta ainda Dario.

(Texto: Marcelo Rezende com Leo Ribeiro)

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