Há 109 anos nascia Noel Rosa, o poeta da Vila Isabel

Marcelo Rezende

Há 109 anos, mais precisamente no dia 11 de dezembro de 1910 nascia, no Rio de Janeiro, o sambista, cantor, compositor, bandolinista e violonista Noel Rosa, um dos artistas mais importantes da música brasileira. Ele se tornou célebre por promover a união do samba do morro com o do asfalto, principalmente através do rádio. Seu rosto marcante, com uma deformidade no queixo, foi um sinal que a vida lhe deixou logo no parto. Para fazê-lo vir ao mundo, os médicos utilizaram o fórceps, instrumento ginecológico que auxilia a retirada do bebê, essa intervenção acabou afundando seu maxilar. Sua vida foi breve, porém intensa. Noel Rosa morreu aos 26 anos, vítima de tuberculose contraída pelo seu etilo de vida boêmio.

Noel partiu jovem, mas deixou seu legado em quase 250 canções, a maioria num espaço de cinco anos. Suas músicas são registos históricos que narravam mudanças culturais, políticas e econômicas no Rio de Janeiro do início do século 20, abordando temas que envolvem as mais diversas classes sociais. Seu primeiro sucesso, “Com que Roupa?”, caiu no gosto dos foliões no carnaval de 1931. Este foi apenas um dos vários sucessos da sua carreira.

Nos bares do bairro da Vila Isabel, ele aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música. Foi exatamente exaltando a Vila, que escreveu quatro, dos seus mais belos sambas. Nas suas letras era evidente a crítica ao cotidiano, com seu humor seco e sarcástico. A música não foi sua única paixão. Noel Rosa também gostava muito das mulheres. Dos seus amores, dois foram marcantes: a esposa Lindaura de Medeiros Rosa e a amante Juracy Correa, a Ceci, que inspirou Noel a escrever o clássico “Dama do Cabaré”.

Aliás quem quiser conhecer mais sobre a vida do artista, precisa assistir ao filme “Noel, o poeta da Vila”, de 2006, a obra retrata a história da vida de Noel Rosa, desde a sua juventude como estudante de medicina e amigo de operários, favelados e prostitutas até o encontro casual com Ismael Silva e o desafio que o transformou num dos grandes compositores da música brasileira de todos os tempos.

Noel Rosa chegou na minha vida apresentado por Renato Fernandes, amigo e parceiro na Banda Bêbados Habilidosos. Ele sempre dizia que Noel era como um bluseiro do Mississipi, pois suas canções contavam histórias, e de fato foi uma grande influência nas composições de Renato e nas músicas dos Bêbados. Anos mais tarde ganhei de uma amiga uma coleção de discos de samba antigo, e a grande surpresa foi encontrar a gravação de “Com que Roupa”, de 1931. Uma verdadeira pérola que guardo com muito carinho.

Uma polêmica entre Noel Rosa e Wilson Baptista durou menos de três anos, mas rendeu ótimas músicas e se tornou parte importante do folclore musical brasileiro. O chumbo trocado entre os dois sambistas rendeu belíssimas canções como “Feitiço da Vila” e “Palpite Infeliz” de Noel Rosa. Na biografia “Wilson Baptista- O samba foi sua Glória!’, de Rodrigo Alzuguir, fica claro que não era exatamente uma briga, e que ambos chegaram a dividir o palco para cantar “Deixa de ser Convencida”, neste dia, animados, ambos celebraram a amizade. Se houve alguma briga, esta ficou apenas nos versos de canções e quem ganhou com isso foi o samba brasileiro.

A vida boêmia, regada a bebidas e cigarro, custou a Noel Rosa a sua saúde. Ele lutava contra a tuberculose, mas seu tratamento não surtia efeito desejado por conta das suas recaídas aos bares nas ruas da Lapa, no Rio de Janeiro. Noel morreu em casa, ao lado da esposa e da mãe, no dia 4 de maio de 1937. Ficou a obra eternizada em suas composições e uma história de vida, que apesar de ter durado apenas 26 anos está gravada para sempre na linha do tempo da música popular brasileira.

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