Entrevista da semana com o presidente da Famasul

‘Tecnologia com aumento de produção, desde que se respeite sempre a sustentabilidade’

– Maurício Saito / Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul –

O Estado – Quanto tempo é realizado o trabalho para que MS alcançasse o status de líder brasileiro na integração lavoura, pecuária e floresta com mais de 2 milhões de hectares?
Saito – Primeiro nós temos que fazer referência a todo um trabalho que foi desenvolvido pela comunidade científica. Nós temos no nosso Estado três unidades da Embrapa e isso possibilita para que nós produtores rurais tenhamos acesso a novas tecnologias de produção e também pesquisas consolidadas que são realizadas pelas fundações no Estado. Atualmente temos a Fundação MS, em Maracaju e Chapadão do Sul. As tecnologias têm a função de aumento de produtividade, mas com uma leitura em relação a sustentabilidade, a partir do momento que foram disponibilizadas aos produtores rurais sul-mato-grossense. Nós adotamos e a partir dai, não só visando o aumento de produtividade por hectares também consolidada com a possibilidade de uma nova atividade, porque quando falamos de ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta), nós falamos de diversas cadeias de produção, temos ali pastagem, possibilidade de agricultura e introdução de floresta. Isso faz com que o Estado possa atingir esse nível de excelência em relação aos demais Estados do país, porque temos vocação basicamente concentrada nas regiões que tinham anteriormente uma pecuária bastante desenvolvida e a entrada dessas novas atividades. ILPF nada mais é do que a consolidação de um bom trabalho que é realizado pelos produtores rurais de Mato Grosso do Sul.

O Estado – Hoje a tecnologia é muito importante para o desenvolvimento dos setores produtivos. O que a Famasul faz para auxiliar os produtores a adotar práticas modernas e sustentáveis?
Saito – Um dos principais papéis da Federação de Agricultura que temos em relação a desenvolvimento da agropecuária sul-mato-grossense é exatamente de compartilhar conhecimento. A partir do momento que temos uma cadeia dentro de Mato Grosso do Sul de produção, que atinge diversas atividades a capilaridade existente dentro do sistema Famasul com seus 68 municípios atendidos pelos sindicatos rurais faz com que essa possibilidade de transmissão de conhecimento seja mais bem estruturada. Por isso, a Famasul investe muito em conhecimento e compartilhar este conhecimento adquirido junto a comunidade científica.

O Estado – A preocupação ambiental é uma pauta importante para o setor rural e o Estado tem um dos biomas mais emblemáticos, o Pantanal. É possível aumentar a produtividade na região pantaneira preservando rios, fauna e flora com um manejo consciente? De que maneira?
Saito – Sem dúvida alguma. Quando fazemos referência ao bioma Pantanal, temos que deixar claro, o Pantanal é um bioma na qual 90% das propriedades estão com a iniciativa privada, significa que os produtores rurais estabelecidos. O que precisamos reforçar que há cultura pantaneira tradicional, são mais de 300 anos com nós possamos ter dentro desse bioma 83% de vegetação nativa preservada, essa preservação tem como aliada a ciência. Eu gosto de afirmar a importância das Embrapas aqui no nosso Estado, porque a Embrapa Pantanal que está estabelecida em Corumbá traz a possibilidade ao produtor rural. Então, é só alinhar o produtor rural com o seu lado empreendedor, a ciência através daquilo que ela disponibiliza como conceitos de produtividade, também de sustentabilidade, fazer com que o Pantanal tenha a possibilidade de incremento de produtividade. A ciência tem uma grande função que é estabelecer possibilidade econômica naquela região, com suas particularidades, uma região bastante complexa em relação de manejo e ao mesmo tempo aproveitar o bom lado do produtor rural que tem realizado um trabalho extremamente importante ao Estado, o maior exemplo disso é a preservação nativa já existente.

O Estado – O que o senhor destacaria como práticas sustentáveis modelo do nosso Estado?
Saito – Nós temo aí o ILPF, temos o plantio direto quando introduzido no nosso Estado trouxe a possibilidade de se fazer uma agricultura conservacionista, você tem através do plantio direto a possibilidade de impedir determinados eventos que aconteciam antes da introdução dessa atividade, então além da integração de culturas existentes no nosso Estado, nós também temos um lado que é bastante potencializado pelos produtores rurais que é a elevação da produtividade sempre calcada nessa sustentabilidade.

O Estado – A capacitação dos profissionais que atuam no campo é um grande diferencial nosso por meio do Senar. O que o senhor avalia que pode ser melhorado neste sentido?
Saito – Um dos grandes gargalos existentes aqui em Mato Grosso do Sul e não só aqui, , mas no país de maneira geral, é o de se acompanhar essa evolução tecnológica que existe no setor da agropecuária. Nós temos hoje inúmeros exemplos de implemento, máquinas que são usadas com GPS altamente tecnificado, nós temos aí a possibilidade de plantio, inclusive sem o tratorista da maneira que nós conhecíamos anteriormente, hoje existe uma tecnologia que faz com que o plantio seja muito mais bem estabelecido graças a esse aumento tecnológico que temos implementado nas nossas máquinas, esse é um dos exemplos. Nós temos uma pecuária que teve um aumento significativo, hoje Mato Grosso do Sul é o segundo maior em produção de pecuária dentro do nosso país de carne bovina vermelha e também baseado em aumento de produção muito calcado em inovações tecnológicas, o que acontece com isso? Ao mesmo tempo que você tem essas novas tecnologias, nós temos uma lacuna de profissionais habilitados a atender essas novas tecnologias disponíveis e por isso o Senar eu acredito que ele possa oferecer um papel fundamental, que é o de capacitar esses trabalhadores rurais, também capacitar os nossos produtores rurais para que possamos adequar não só a questão tecnológica existente no campo e a disposição, mas também a questão gerencial das suas propriedades.

O Estado – Bonito foi destaque mundial durante a reunião dos ministros do Brics, quais os impactos deste encontro para o setor em termos de investimento e visibilidade?
Saito – Trazer para Mato Grosso do Sul, especificamente para Bonito encontro do Brics, seus respectivos integrantes do Ministério de Agricultura, além de levar ao conhecimento in loco ao Ministério do real trabalho desenvolvido em Mato Grosso do Sul e consequentemente do país, um trabalho muito bem executado pela ministra de Agricultura Tereza Cristina, que tem aberto novas oportunidades para os produtores rurais. Então, a vinda dos ministros para Mato Grosso do Sul é muito simbólica, principalmente porque nós conseguimos demonstrar a essas pessoas, que além de um potencial agrícola e pecuário bastante acentuado, nós temos uma preocupação com a sustentabilidade bastante elevada também. O fato de poder compartilhar com esses ministros do Brics o grande potencial agrícola, pecuário e a sustentabilidade existente aqui no Estado faz com que eles também tenham conhecimento além daquilo que muitas vezes sai a mídia de uma maneira muito equivocada, a oportunidade da gente poder levar a essas pessoas o real trabalho realizado pela classe agropecuária sul-mato-grossense, além de logicamente uma abertura de novos mercados ao conhecimento que eles terão a partir desse encontro.

Integração de lavoura, pecuária e floresta leva ganho na produtividade

Mato Grosso do Sul é líder no país em áreas rurais que utilizam o sistema de ILPF Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), com 2.085.518 de hectares. A informação é do relatório da Rede ILPF no Brasil, divulgado pela Embrapa. O resultado é comemorado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) e pelo Governo do Estado, pois está alinhado com uma política de produção sustentável do agronegócio, que coloca a região em destaque nacional.

A pesquisa encomendada pela Rede de Fomento ILPF foi realizada pelo Kleffmann Group durante a safra 2015/2016 e estimou que o Brasil conta hoje com 11.468.124 hectares com sistemas integrados de produção agropecuária.

A ILPF é uma estratégia de produção agropecuária que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais, dentro da mesma área. Pode ocorrer em cultivo consorciado, em rotação ou sucessão, de forma que haja interação entre os componentes, gerando benefícios mútuos. O sistema pode ser adotado pequenos, médios e grandes produtores. Os ganhos ambientais também são fundamentais para o Estado e o país.

(Texto: Bruna Marques)

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