Desafio de brasileira é maior que medalhas

Em Lima, Glice Côrtes – surda e cega – disputa as provas de ciclismo. A brasileira vai em busca de desafio maior que ganhar medalha. Em uma bicicleta, andando por uma pista ou descendo em estradas sinuosas, em velocidade que supera os 45 quilômetros por hora (km/h), tendo apenas 5% da visão e podendo escutar apenas alguns ruídos, já com o auxílio de duas próteses auditivas. Qual seria a sua reação?

A paraciclista Gilce Côrtes definiu assim a sensação: “É explosão total. Você nem sabe aonde está, só quero dar o máximo de mim”. A paulista faz parte da equipe de 12 atletas que estão em Lima, no Peru, representando o Brasil nos Jogos Parapan-Americanos, e começa nesta quinta-feira (29) a última etapa do desafio, as provas de estrada.

Síndrome de Usher
Gilce é portadora da Síndrome de Usher, que associa perda de visão e audição. “Ela é degenerativa e genética. Vou perdendo, a cada dia, um pouco da visão e da audição. Ela só vai parar quando eu estiver totalmente surda e cega”. Pela medicina atual, essa síndrome é incurável. “Os médicos me aconselham a não tomar sol nos olhos e não passar por situações de estresse. O ciclismo me traz adrenalina boa. É isso que preciso”.

Casamento com o paradesporto
“O ciclismo chegou por acaso. Eu nunca tinha praticado nenhuma modalidade. A deficiência veio para mostrar que se pode ir muito além”. Em um ano e meio no esporte, ela está indo bem longe. Já ganhou medalha de prata na prova de resistência, no Circuito Pan-Americano em 2018, e de bronze na prova de resistência de estrada do mesmo torneio, nesse ano. O convite para pedalar partiu da personal trainer Lorena de Oliveira. “Nos treinos a gente ficou muito amiga, eu tive vontade de voltar a pedalar e ela topou a ideia. Estamos nessa e está sendo demais”.

Disputas em duplas
A guia vai na frente ditando o ritmo. A ciclista vai atrás, tentando manter o ritmo e dar estabilidade à bicicleta.

As bicicletas são bem diferentes em relação às provas de pista e de estrada. A guia Lorena explica as diferenças: “Aqui no velódromo, a bike não tem freio nem marchas. Ela é bem mais clean e mais leve. Na estrada, o equipamento já é bem mais pesado. Como as provas são mais longas, a bike precisa ser mais resistente”. (Rafael Belo com assessoria)

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